Eu sou um em cada dez, um número em uma lista
Eu sou um em cada dez, mesmo que eu não exista
Ninguém me conhece, mas estou sempre lá
Uma estatística que lembra um mundo que não se importa

Meus braços envolvem a rainha da perdição
A desnutrição embota meu cabelo
Meus olhos são pretos e sem vida
Com um olhar desfavorecido
Eu sou o mendigo na esquina
Ninguém vai ceder um centavo
Eu sou a criança que nunca aprende a ler
Porque ninguém tem tempo livre

Eu sou um em cada dez, um número em uma lista
Eu sou um em cada dez, mesmo que eu não exista
Ninguém me conhece, mas estou sempre lá
Uma estatística que lembra um mundo que não se importa

Eu sou o assassino e a vítima
A licença com a arma
Eu sou uma senhora triste e machucada
Em um aliado em uma favela
Eu sou um empresário de meia idade
Com doença cardíaca crônica
Eu sou outro suicídio adolescente
Em uma rua que não tem árvores

Eu sou um em cada dez, um número em uma lista
Eu sou um em cada dez, mesmo que eu não exista
Ninguém me conhece, mas estou sempre lá
Uma estatística que lembra um mundo que não se importa

Eu sou uma mãe faminta do terceiro mundo
Um refugiado sem casa
Eu sou uma esposa viciada em Valium
Eu sou um pensionista sozinho
Eu sou um espectro cheio de câncer
Cobrindo a terra
Eu sou outro bebê faminto
Eu sou um acidente de nascimento

Eu sou um em cada dez, um número em uma lista
Eu sou um em cada dez, mesmo que eu não exista
Ninguém me conhece, mas estou sempre lá
Uma estatística que lembra um mundo que não se importa